segunda-feira, 26 de junho de 2017

Vontade, procura-se!

Procura-se Vontade.

Vontade de:

- trabalhar (a sério, isto está a ficar perigoso, muito trabalho, prazos e eu a assobiar para o lado);
- ir ao ginásio (meses, MESES, sem lá meter os pés, vergonhoso), a isto soma-se a NÃO vontade de ir à praia (zero);
- ter filhos (relógio biológico, faça o favor de despertar urgentemente);

e é isto a minha vida neste momento. Tudo serve de desculpas para não estar colada no computador a trabalhar ou ir bater banhas no gym. Os filhos...nem falo, nem sei. Medo.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Viver não é um sítio seguro

Fui passear a Londres com toda a família. Ia com o coração nas mãos face aos atentados terroristas recentes. Tínhamos programado almoçar no Borough Market ainda sem saber o que se iria lá passar.
Não havia volta a dar, os voos estavam pagos, hotel, excursões para fora de Londres, bilhetes para o The Shard. Milhares de euros envolvidos e algum receio. Mas bolas, quem foi ao Rio de Janeiro no réveillon e conseguiu não ser assaltado também conseguia ir a Londres com o mesmo espírito de aventura e alerta, certo?

Claro que assim que pusemos os pés em Londres todo esse receio desapareceu. Londres continua igual, as pessoas andam tranquilas nas ruas, mares de gente em todo o lado, apanhamos dias radiosos, tudo tranquilo. Foi óptimo!

Nos dias de hoje não podemos dizer que estamos 100% tranquilos num sítio qualquer. Nem aqui, nem em lado nenhum. Olho muito mais por cima do ombro agora quando ando na rua do que há uns tempos atrás, é um facto. Já penso duas vezes quando deixo o Guapo à porta das lojas enquanto ando a cuscar os trapos. Faço o possível para andarmos sempre em grupo porque sei lá...

Mas depois chego a Portugal e tomo conhecimento de um incêndio numa torre de habitação em Londres que mata mais de 70 pessoas por causa de um erro de projecto e negligência. Um horror...e pensar que tínhamos passado lá perto umas horas antes!

Uns dias depois, um incêndio dantesco em Pedrogão Grande que conduz dezenas de pessoas para a estrada da morte onde se perdem famílias carbonizadas nas suas viaturas. Isto é atroz, é de uma violência a todos os níveis que uma pessoa nem quer pensar. Toca-nos profundamente de uma maneira egoísta quando pensamos que podíamos ser nós, a nossa família, os nosso amigos...

A minha amiga cancelou a viagem dela a Londres porque os miúdos estavam aterrorizados com possíveis ataques terroristas. Vão para um hotel tranquilo no meio da serra. Será que vão? E se houver um incêndio destes?

Não há mais tranquilidade para ninguém se pensarmos nas desgraças que nos podem acontecer a qualquer minuto. Vivo muito essa angústia. Tenho muito medo de algum acontecimento tenebroso possa alterar radicalmente a minha vida. O meu exercício diário é 'não penses nisso'. 

E é o que faço neste exacto momento: 'não penses nisso'. Faz hoje um anos que apanhei o maior susto da minha vida quando telefono aos meus pais e a minha mãe me diz que o pai acordou com a boca de lado. AVC na certa...mas não foi. Felizmente que não foi e felizmente já está praticamente recuperado. Tudo pode mudar num instante e isso assusta-me, aterroriza-me. Até ter um filho deixa-me em pânico...pode correr tanta coisa mal. E se já vivo em sobressalto hoje imaginem com um filho?! É melhor começar a fazer terapia quanto antes.

Antes de terminar, e as palavras valem o que valem, às pessoas que perderam tudo...esperança e força, muita força.

domingo, 4 de junho de 2017

Vou contar uma história

Reza a história que um belo casal vivia muito feliz na casinha em terra pequena à beira mar plantada, que compraram fruto do árduo trabalho no mar e em terra. Tudo a correr de feição e até avançaram para ampliar a casa e construir mais um piso. Gente humilde mas sempre pronta a receber quem fosse de braços abertos.
Até que um dia...
O pequeno fruto do seu amor não resiste a uma doença fulminante e pais ficam orfãos de filho. A vida seguiu e com eles a motivação para tentar outra vez. Até que um dia a pior notícia bateu à porta. A D. Ana ficara viúva. O mar que os sustentava ceifou a vida do seu amor. O marido não mais havia de voltar da labuta e D. Ana não mais voltaria a sentir o abraço quente da sua melhor metade.
Jovem ainda, vestiu-se de negro e toda a sua alegria e força de viver estavam adormecidas.

Mas logo apareceram os abutres deste mundo. Os sogros e irmã do falecido arreganharam os dentes e reclamaram os direitos de herança do filho e irmão desaparecido. Não quiseram saber da tristeza de uma mulher que ficou sem um filho e depois sem o marido, amor de sua vida. Exerceram o seu direito (na altura) de herdar metade de tudo o que era do filho e irmão para que a viúva não ficasse mais rica que eles. Rica? Ficar com a casa que construiu a meias com o seu parceiro? Pois...outras épocas.

Foi com uivos de dor e revolta que D. Ana aceitou esta ganância. Deu-lhe o rés-do-chão da casa onde tudo começou, onde tinha as melhores recordações do seu amor, e ficou com o primeiro andar que mal tinham tido tempo de estrear por causa do acidente. Construiu um acesso directo pela rua e reservou-se ao direito de construir uma açoteia.

Durante o resto da sua vida viveu revoltada no seu interior. Aquela força de mulher continuava a existir mas continha-se cada vez que sentia os germes no piso abaixo do seu. No piso que era seu por direito de esforço e dedicação. Andava com pés de lã, não abria as janelas nem sequer em verões ardentes de quente. 'Aquela gente não há-de ouvir um pio meu enquanto for viva'. Auto massacrou-se com essa vingança, como se os outros quisessem saber. Já tinham a casa para passar férias!

A meio do percurso os vermes ainda reclamaram que deveriam ter acesso à açoteia, invejosos que nem a morte os quer. Foram para tribunal com D. Ana a chorar lágrimas de sangue. Desta vez a lei foi justa. Ela é que construiu a açoteia, os outros não tinham direito a nada. Vermes.

No fundo D. Ana continuava uma pessoa alegre, mas ao que consta, uma sombra ao lado do que era naquele outro tempo. As portas de casa deste casal estavam sempre abertas, as melhores festas de Natal eram lá em casa, havia sempre espaço para mais um! Essa D. Ana eu já não conheci.

Os anos passaram e D. Ana nunca tirou o luto de si, nem das suas roupas. Nunca quis saber de outro homem, nem se era feliz. Foi vivendo.

Um dia a morte esperou-lhe lentamente. O sangue começou a ficar doente e arrastou-a para o hospital. Nos dias que lá esteve inspirou-lhe o maior desejo: 'tomar um duche para sentir a água correr-lhe no corpo'. Acabou por partir sem concretizar essa vontade. Não há duche que eu tome que não me lembre dessa frase.

A casa da D. Ana acabou por ficar para o sobrinho mais próximo que lhe era quase como um filho. 
A ele coube-lhe a dura tarefa de decidir o que fazer com o recheio de uma vida em objectos. Sentiu em cada lençol bordado do enxoval uma pontada de dor. Tudo se foi. 

Por fim vendeu a casa. Vendeu com o maior desejo que o novo proprietário fizesse obras bem barulhentas o verão inteiro. 

Eu acrescento: desejo que os novos proprietários façam grandes festas e celebrações naquela casa, levem muita alegria e barulho para aquelas paredes, façam a vida daqueles vermes um inferno que é o que eles merecem.

Não que seja vingativa (um pouco talvez), mas ganância com injustiça é do pior. Para mim o que fizeram à minha tia D. Ana foi pura maldade. Espero que quando esses seres chegarem ao outro lado o meu tio esteja lá para lhes dar um bom puxão de orelhas e a minha tia umas boas vassouradas. No fim sei que vão acabar por lhes perdoar, mas entretanto espero que o karma de terem feito o que fizeram os persigam até ao fim.





quinta-feira, 1 de junho de 2017

Excesso de liquidez

Vendi a minha casinha!!!

Vendi a minha casinha....

Vendi a minha casinha, buáaaaaaah!!!!!

Tenho de me mentalizar que são objectos e a vida continua. Fui muito feliz lá, tive muitas dores de cabeça com as obras, tive problemas com infiltrações até substituirmos o telhado e era dramático cada vez que chovia. Dá-me muita nostalgia ter-me desfeito da casa, mas a vida é assim mesmo. Não podemos ficar agarrados a todos os objectos que temos, principalmente quando não lhes estamos a dar uso. E tal como se sabe, uma casa vazia é uma casa a estragar-se (sim, elas auto degradam-se).

Depois de pagar o que devia ao banco, ainda sobrou algum. Entreguei tudo aos meus pais e eles lá orientaram o excedente à maneira deles.

Neste momento tenho 'excesso de liquidez', expressão utilizada pela minha gerente de conta. Uma pessoa é tão assediada que até julga que está ryca!

Não tenho dúvidas que tenho uma vida confortável. Não passo necessidades, posso permitir-me a certos luxos, e até carro parado à porta tenho! Mas acima de tudo tenho o luxo de ter água potável sempre que abro a torneira, roupas confortáveis, comida no frigorífico, a tranquilidade de sair à rua em segurança. Isso sim, é o mais importante.

Ryca serei quando estiver indecisa em comprar uma penthouse no Upper East Side ou no Upper West Side em NY!