terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Duvidas existenciais

Ando por aqui com o blogue preso por um fio. Porquê? Porque acho que o Guapo já o descobriu e não me sinto muito à vontade para escrever. Bem, mas não temos grandes segredos, por isso se me estás a ler: Olá marido fofinho :)))

Estou quase a fazer anos. Mais um. E menos um. Menos um ano de qualidade fértil. Menos um para atacar a história dos filhos. Eu sei que devia estar focada nesse assunto, mas não estou. Quero dizer, estou e não estou.
Sabem aquela sensação de estarem a ver episódios em catadupa da Good Wife mas têm algo a martelar na vossa a cabeça a dizer: devias estar a trabalhar/a arrumar a cozinha/a tratar do IRS, etc. É (quase) o mesmo. Eu sinto que devia estar a tratar do assunto. A ir aos médicos (mas vou marcar), a pensar no que vai mudar, as viagens que não vou fazer, eventualmente a procurar um emprego em vez de trabalhar por conta própria, em organizar-me melhor para ter mais tempo para tratar da minha casa para poder pôr-la à venda, and so on. Mas aqui ando na lufa-lufa diária, a assobiar para o lado e fingir que tenho ovários de uma jovem extra jovem. Não estou preparada para ter um ser 100% dependente de mim, para deixar de ter noites descansadas a dormir profundamente (e olhem que eu preciso de dormir bem para ser gente), para assumir responsabilidade para uma vida inteira. E como eu sou altamente neurótica e hipocondriaca fico cheia de nervos...e se a criança nasce com algum problema? E se está tudo bem e no parto corre tudo mal? E se acontece algum acidente estúpido? E se...? Nunca mais vou ser a mesma, os cabelos brancos vão proliferar e as rugas acentuar.
Ao nível pessoal também é angustiante pensar que não vou ter os horários que me apetecem, nem vou concretizar os sonhos que por mais absurdos que sejam a pessoa ainda sonha. Do género...viver uma temporada em NY, ou uma temporada no Rio de Janeiro, ou uma experiência como tive em Barcelona. Parece que nem lá estive, que foi uma outra vida. Estou tão caseira que quase não me reconheço às vezes.
Se por um lado tudo o que queremos é uma vida pacata, com casa, comida e água quente, por outro lado...só se vive uma vez. Quantas vidas podemos ter na mesma vida?
Não quero estagnar. Quero continuar a ser muito feliz ao lado do homem que escolhi ser meu companheiro para o resto da minha vida, mas tenho muito receio que a rotina nos engula e que passemos a ser mais um casal com filhos que vive para pagar as contas. Eu tinha (e tenho) tantos sonhos...

Lentamente vou-me apercebendo que muitos dos meus sonhos estão a desvanecer. Porque os meus pais não estão a ir para novos, porque não tenho liberdade monetária para fazer o que quero e porque a idade se está a impor aos meus ovários. E assim chego à conclusão que sou nada mais que uma formiguinha no planeta a tentar sobreviver, outras vezes a viver, mas que na certa passa os dias a trabalhar e a fazer aquilo que todos fazem. Não estou a construir algo que deixe marca positiva para o futuro. Algo que contribua para a evolução da humanidade. Não. Estou a trabalhar para gente muito rica, para terem as casas de luxo que sonharam para venderem logo de seguida 'porque surgiu uma excelente oferta'.

Vivo angustiada sim. Angustiada por reparar que já não vou ter tempo para ser e fazer tudo o que gostaria, nem estar com tempo de qualidade com os que me estão longe.

Às vezes apetece-me gritar e atirar tudo ao ar. Entrar num avião e começar de novo. Mas nunca o conseguiria fazer sem as minhas pessoas. E assim vivo neste limbo.

Pode parecer ingratidão, mas não é. Sou muito grata por tudo o que tenho e consegui alcançar, sou muito grata por ter as pessoas mais maravilhosas na minha vida. Mas na realidade são elas que me prendem aqui, ao o que sou hoje. Se um dia elas me fogem...não sobra nada de mim. Percebem?

Pois é, hoje estou assim, a divagar, a pensar na vida. Deve ser porque tenho demasiado trabalho. Agora. A partir de Março não tenho grandes perspectivas de trabalho, a não ser que apareçam entretanto, não me preocupo. Vou vivendo. Ou como se diz: Vai-se andando!