Ser arquitecto neste país é tramado. Para não dizer outra palavra.
Quando me contactam para pedir uma proposta de honorários eu faço por ter uma conversa com a pessoa/ possível cliente para tentar perceber quais os objectivos essenciais do projecto, se é simples, ou complexo, se inclui todas as fases, etc. Em mil propostas é capaz de avançar uma. E mesmo assim...
O mercado e a realidade nacional é assim mesmo. Mas não é esta a minha questão. O que me 'atormenta' é uma pessoa/possível cliente, indicada por um outro colega meu (que diz não ter tempo...estranho) e que me contactou por email. Enumerou as suas dúvidas, dando para notar que tinha andado a apalpar o terreno. Respondi com o maior rigor possível às suas questões, mas faltava-me um elemento necessário para poder apresentar valores. Dei o meu nº telemovel caso não tivesse, sugeri uma reunião caso estivesse interessado. Que nada. Findo algum tempo respondeu-me de volta com imensas (outras) questões técnicas de obra muito objectivas e com linguagem de...engenheiro? Seria?
Eu respondi, mais parcamente, com menos ingenuidade e apresentei a proposta de honorários. Podia ter baixado mais o valor? Podia. E isso é que me deixa a remoer, o que é estúpido. Foram umas três horas a responder a 'dúvidas', que num advogado ou médico já seriam umas centenas de euros, mas eu como arquitecta sinto-me mal por ter prestado um serviço gratuito e ter levado como resposta...a total ausência de resposta. E depois ainda dizem que somos arrogantes e que com tanto arquitecto a passar fome ainda se arma em fina.
Por isso é que devemos a andar a passar fome, não conseguimos com que valorizem a nossa profissão porque tirar dúvidas é o mesmo que dar palpites. Se for um arquitecto, claro está.
Claro que às vezes aparecem clientes soberbos. Raros, mas deliciosos de se trabalhar. Exigentes, mas flexíveis. Entusiastas mas razoáveis. E é nessa expectativa que encaro sempre uma nova proposta.
4 comentários:
Não dá vontade de emigrar? Eu ás vezes penso nisso...
Dá imensa vontade sim. Todos os dias. Mas eu já fui emigrante e já senti na pele o ser 'dispensada' por não ser espanhola. Não foi bom, senti-me revoltada. Mas o mercado de trabalho é mesmo assim. Por enquanto vou-me aguentando por cá, pela família, porque de facto este é o meu País e apesar de tudo gosto de cá estar.
Vamos ter esperança :)
Já tive um "cliente" desses. Tivemos uma reunião onde ele apresentou o programa, tirou dúvidas etc. Para o projeto avançar estava dependente de uma questão camarária. Acabou por ficar tudo em águas de bacalhau mas apresentei na mesma os honorários relativos à consultoria. Perante a indignação, só respondi "O senhor quando vai ao médico ou a um advogado paga a consulta, certo?Pois aqui é o mesmo". Haja paciência.
xoxo
cindy
@cindy
Deviamos ter sempre essa postura, assim já ninguém estranhava!
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